Em 1973, o geólogo Roberto Thompson de Carvalho (Bel) e seu amigo garimpeiro, Chicão, foram até a sede da Prospec S/A em Petrópolis, onde eu trabalhava, e contaram duas histórias fantásticas (1). A que vou resumir abaixo trata do provável reconhecimento do local onde se encontraria o que Chicão chamava de Tesouro de Tiradentes, ou dos Inconfidentes (3).
Chicão era um garimpeiro de diamantes da região de Diamantina (MG), mas que tinha como hobby caçar tesouros com seu detector de metais (2), Chegou a encontrar moedas de valor, escondidas sob o assoalho de madeira de casarios coloniais, e algumas pepitas de ouro e objetos metálicos sob o solo (chaves, pulseiras, brincos, correntes, ferraduras, esporas, pregos, etc.). Sua obsessão, contudo, era descobrir determinado tesouro. Esse tesouro não faz parte de lenda, folklore ou história transmitida oralmente por sucessivas gerações. Não! É uma teoria desenvolvida por ele: Tiradentes conseguiu desviar parte do ouro recolhido como dízimo da mineração da rica região de Ouro Preto, escondendo-o em uma gruta situada na escarpa da Serra do Ouro Branco.
Joaquim José da Silva Xavier foi tropeiro, minerador, e dentista (daí o seu apelido). Em 1775 entrou para a Milícia de Minas Gerais, época em que se transferiu para a capital da província, em Vila Rica de Ouro Preto (Televan).
Já lider dos Inconfidentes (3) e como Alferes, Tiradentes mantinha contato com os coletores locais do dízimo, que era então levado pelo Caminho Real até o Rio de Janeiro. Essa rota passava por Ouro Branco, uma das paradas obrigatórias para que a coleta fosse inventariada e registrada.
Para sustentar sua tese, Chicão apresenta alguns fatos pertinentes e bastante interessantes. Ressalta que confrontou registros históricos de valores e quantidade de saída do dízimo em Ouro Preto e da correspondente entrada nos livros em Ouro Branco. Os dados não se igualavam, a entrada sendo sempre menor do que a coleta original. Esse foi o pulo para concluir o óbvio. Parte do ouro estava sendo desviado… e escondido para criar fundos que sustentassem a sonhada revolução dos Inconfidentes. Após décadas de pesquisa e elucubrações, Chicão concluiu que o ouro era colocado em grutas da encosta da Serra do Ouro Branco. Um escravo era alçado por cordas a partir do topo da serra e descia ao longo de uma escarpa negativa (invertida), tal qual o Rapel praticado hoje (4). Ao atingir o local, balançava-se até atingir o ponto de pular para dentro da caverna. A corda era em seguida recolhida e o escravo alí padecia até a morte, ou a abreviava pulando morro abaixo.
Sobre a localização da gruta, o Bel conta que ela estaria situada no sentido ENE de uma visada a partir da entrada da cidade de Ouro Branco, na estrada de Ouro Preto. Era visível de binóculo. Na imagem da figura abaixo eu situei a zona com base nessa direção e após ter verificado que, alem de ser um dos locais mais concorridos por praticantes de Rapel (Rappel), o local apresenta grutas em escarpas invertidas (negativas).
Na época cheguei a conversar com os dirigentes da Prospec, o Presidente Renato Archer e o Diretor Silvio Guedes, e tambem com Marcelo Tunes, colega de turma do Bel, que era assessor. Queríamos um helicóptero da empresa para fazer um vôo de reconhecimento e fundos para financiar uma campanha de investigação em algumas cavernas. Eles ouviram com muita atenção e, já esperado, riram. Sem debochar, mas riram.
Agora, 40 anos depois, resolvi voltar ao assunto e tentar conseguir meios suficientes para, pelo menos, chegar mais perto do tesouro. Mathilde Thompson, que é “filha do pai” irá encarná-lo nessa aventura.
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Observações
(1) – A outra história é descrita neste blog em Estátua de D. Pedro I – Praça Tiradentes
(2) – Detector de Metais
(3) – O principal fator que desencadeou a Inconfidência mineira foi o aumento da exploração colonial, através da imposição de taxas excessivas sobre a extração de ouro na região de Minas Gerais. As zonas mais prósperas da mineração compreendiam as vilas de Sabará, Vila Rica (Ouro Preto) e São João del Rei (in Renato Cancian).
A bandeira dos Inconfidentes – Liberdade ainda que Tardia |
(4) – Imagens de escarpa negativa (invertida)
Escarpa invertida | Escarpa invertida. Essa imagem ilustra como teria sido o balanço do escravo para pular dentro da caverna |
Três fotos de praticantes de Rapel na Serra Do Ouro Branco, sendo as duas superiores com caverna ao fundo. | ||
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5 comentários:
interessantes suas estórias de garimpo, tesouros, descobertas de minérios preciosos.
Passei alguns anos em MOÇAMBIQUE -
campo fértil para esses sonhos de brilhos deslumbrantes.
também sonhei com esmeraldas, diamantes e outras pedras preciosas.
E tive amigos verdadeiros profissionais
abraço
Prezado Platero,
Que coisa boa ter descoberto seu blog. Passei a seguí-lo. E, por coincidência, a primeira coisa que li foi Évora, para onde estou indo com "voracidade" no dia 26 próximo com minha mulher. Farei a rota dos vinhos, do bacalhau, leitão da Bairrada, polvos e bagaceira.
Parabéns pelo blog. Vou levar alguns dias para percorrê-lo. Gostei da foto. Tenho um blog só sobre os botequins do Leblon, onde moro. Forte abraço
Será um prazer enorme, convocação aceita .
Beijos,
Mathilde Thompson
ola amigo pois tmb sei onde estar a principal parte do tesouro dos inconfidentes tmb estou em busca de ajuda pra começa as escavaçoes queria muito que respondesse thieres caus thierescaus@hotmail.com
Ola se Vçs quiserem mais um para participem dessa maravilhosa.busca estou a sua disposição.desde ja parabéns.boa sorte.
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