Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Carlos Drummond de Andrade são muitos, e não dá para simplificá-lo. Contudo, encontro aquí a oportunidade para apontar uma “descoberta”. Talvez o que poderia ter sido uma “resposta” do poeta brasileiro ao bardo lusitano, Fernando Pessoa:
A última estrofe foi a “solução” que CDA teria encontrado para resolver a amargura que Pessoa expressou em um poema que transcrevo abaixo (parte):
Carlos Drummond de Andrade são muitos, e não dá para simplificá-lo. Contudo, encontro aquí a oportunidade para apontar uma “descoberta”. Talvez o que poderia ter sido uma “resposta” do poeta brasileiro ao bardo lusitano, Fernando Pessoa:
Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão |
A última estrofe foi a “solução” que CDA teria encontrado para resolver a amargura que Pessoa expressou em um poema que transcrevo abaixo (parte):
O que me dói não é o que há no coração, mas essas coisas lindas que nunca existirão |
***
De tantas poesias do poeta, de tão fácil acesso pela Internet, resolvi postar apenas uma, não tão conhecida, mas que teve muito a ver com uma certa Maria que cruzou minha mocidade. Muito humor cheio de verdades daquela Maria. Afinal, este é um site de meus encontros... e desencontros.
Caso Pluvioso
A chuva me irritava. Até que um diadescobri que Maria é que chovia.
A chuva era Maria. E cada pingo
de Maria ensopava o meu domingo.
E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.
Eu era todo barro, sem verdura…
Maria, chuvosíssima criatura!
Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.
Era chuva fininha e chuva grossa,
matinal e noturna, ativa…Nossa!
Não me chovas, Maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas susto.
Não me inundes de teu líquido plasma,
não sejas tão aquático fantasma!
Eu lhe dizia em vão – pois que Maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.
E chuveirando atroz em meu caminho,
o deixava banhado em triste vinho,
que não aquece, pois água de chuva
mosto é de cinza, não de boa uva.
Chuvadeira Maria, chuvadonha,
chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!
Eu lhe gritava: Pára! e ela chovendo,
Poças dágua gelada ia tecendo.
E hoveu tanto Maria em minha casa
que a correnteza forte criou asa
e um rio se formou, ou mar, não sei,
sei apenas que nele me afundei.
E quanto mais as ondas me levavam,
as fontes de Maria mais chuvavam,
de sorte que com pouco, e sem recurso,
as coisas se lançaram no seu curso,
e eis o mundo molhado e sovertido
sob aquele sinistro e atro chuvido.
Os seres mais estranhos se juntando
na mesma aquosa pasta iam clamando
contra essa chuva estúpida e mortal
catarata (jamais houve outra igual).
Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas dágua mais deliram,
e Maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada.
Os navios soçobram. Continentes
já submergem com todos os viventes,
e Maria chovendo. Eis que a essa altura,
delida e fluida a humana enfibratura,
e a terra não sofrendo tal chuvência,
comoveu-se a Divina Providência,
e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, Maria! – e ela parou.
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