Alexis-Félix Arver (1806-1850)


Alexis-Félix Arver (1806-1850)
Felix-Arver
Eu o descobri em uma antologia (1) em 1970. Dramaturgo francês, chamado de “poeta de um único poema”, cuja reputação se deve unicamente ao que ficou mundialmente conhecido como Soneto d’Arver. O poema tornou-se um dos maiores clássicos do romantismo francês do século XIX. Arver o escreveu sem título em um álbum de Marie Mennessier-Nodier, filha do escritor Charles Nodier (2). Posteriormente, foi incluído em um livro seu de poesias intitulado “Mes Heures Perdues”. 
O poema foi versado em inúmeras línguas, tendo inspirado diversas peças e livros dedicados inteiramente ao seu desvendamento, motivando extrema curiosidade sobre a musa que o teria inspirado. Ele fala de um amor oculto a uma mulher casada e fiel, possivelmente com algum amigo seu. É considerado, com pouco exagero, uma dos mais belos sonetos já publicados.
Damos destaque às traduções de Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882), poeta americano e autor da primeira tradução da Divina Comédia para a língua inglesa, e do poeta Olegário Mariano.

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         in Mes Heures Perdues (1833)
Ma vie a son secret, mon âme a son mystère,
Un amour éternel en un moment conçu.
Le mal est sans espoir, aussi j’ai dû le taire,
Et celle qui l’a fait n’en a jamais rien su.

Hélas! j’aurai passé pres d’elle inaperçu,
Toujours à ses cotés et pourtant solitaire,
Et j’aurai jusqu’au bout fait mon temps sur la terre
N’osant rien demander et n’ayant rien reçu.

Pour elle, quoique Dieu l’ait faite douce et tendre,
Elle ira son chemin, distraite, et sans entendre
Ce murmure d’amour élevé sur ses pas.

À l’austère devoir pieusement fidèle,
Elle dira, lisant ces vers tout rempli d’elle:
"Quelle est donc cette femme?" et ne comprendra pas
felix-arvers2
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                     My Secret (Longfellow)

My soul its secret has, my life too has its mystery,
A love eternal in a moment" s space conceived;
Hopeless the evil is, I have not told its history,
And she who was the cause nor knew it nor believed.

Alas! I shall have passed close by her unperceived,
Forever at her side, and yet forever lonely,
I shall unto the end have made life's journey, only
Daring to ask for naught, and having naught received.

For her, though God has made her gentle and endearing,
She will go on her way distraught and without hearing
These murmurings of love that round her steps ascend,

Piously faithful still unto her austere duty,
Will say, when she shall read these lines full of her beauty,
"Who can this woman be?" and will not comprehend.

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         Soneto de Arver (Olegário Mariano)
Tenho um mistério na alma e um segredo na vida:
Eterno amor que, num momento, apareceu.
Mal sem remédio, é dor que conservo escondida
E aquela que o inspirou nem sabe quem sou eu.

A seu lado serei sempre a sombra esquecida
De um pobre homem de quem ninguém se apercebeu.
E hei de esse amor levar ao fim da humana lida,
Certo de que dei tudo e ele nada me deu.

E ela que Deus formou terna, pura e distante,
Passa sem perceber o murmúrio constante
Do amor que, a acompanhar-lhe os passos, seguirá.

Fiel ao dever que a fez tão fria quanto bela,
Perguntará, lendo estes versos cheios dela:
"Que mulher será esta?" E não compreenderá
***
(1) O Livro de Ouro da Poesia da França (Clássicos de Bolso, Ediouro, 1969), organizado por R. Magalhães Jr. Nessa antologia a tradução (ótima) é de Raul Machado.

 (2) Ver o blog de Chico Miguel: detalhes da biografia e inúmeras referências sobre Felix Arver e seu soneto.

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