Somerset Maugham (1874-1965)

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Somerset Maugham (1874-1965)

Copacabana, 1961. Comecei a ler o Fio da Navalha indo de bonde para a universidade. Saltei no Lido, e o terminei em um só fôlego. Contudo, durante 50 anos, o que permaneceu na memória (1) foram esses versos do Katha Upanishad, registrados no frontispício do livro e de onde o autor retirou parte para o título:

 

Difícil é andar sobre o aguçado fio da navalha;
E árduo, dizem os sábios, é o caminho da Salvação (2).

Na verdade, eu o li por causa dessa citação, procurando na história alguma conexão com ela. Não encontrei (1). Nada me recordo (1)  do enredo, mas valeu pela ponte atravessada para ler os Upanishads e o Bhagavad Gita (A Canção de Deus), texto sagrado hindú do séc. IV a.C.

***

(1) Provocado e agradecido pela observação de Beatrice (ver seu Comentário abaixo), reli o livro, após 50 anos, e me espantei com meu próprio esquecimento.
Beatrice tem toda a razão. A citação completa dos Upanishads poderia, até mesmo, ser o próprio título. Fico a pensar sobre o motivo de ter bloqueado totalmente a própria essência da obra de Maugham.

A ação se dá entre os anos 1920 e 1940. O protagonista é um jovem burguês americano, Larry Darnell. Após a Primeira Guerra Mundial, onde seu colega de combate morre ao tentar salvá-lo, Larry retorna para sua cidade natal, Chicago, ainda em estado de choque. Decide abandonar os confortos materiais para buscar o sentido da vida. Em pouco tempo, resolve adiar seu casamento com Isabel e parte para Paris, onde leva uma vida de procura e aprendizado, circulando pelos cafés e bares e lendo livros sobre o Nepal e a Índia.

O inexorável mistério da morte leva-o a questionar o significado último da frágil condição humana e a embarcar numa obstinada e redentora odisséia espiritual.

Entusiasmado com a possibilidade de um mundo sem conflitos, Larry viaja para aqueles países em busca de iluminação espiritual, o que seria uma parte autobiográfica de Maughan, ele mesmo tendo percorrido esse trajeto na década de 1930. Após alguns anos, totalmente transformado, Larry reencontra em Paris Isabel e vários amigos americanos que haviam deixado os EUA após crise financeira de 1929.

“O homem sobre quem escrevo não é célebre; talvez nunca chegue a sê-lo. É possível que, ao atingir o fim da vida, não deixe, de sua passagem pela terra, vestígio maior que aquela pedra que, atirada ao rio, marca a superfície das águas com ondulações efêmeras. Neste caso, se o meu livro for lido, sê-lo-á exclusivamente pelo interesse intrínseco que possa ter. Mas é possível que o gênero de vida que esse homem escolheu para si próprio e a singular força e doçura do seu caráter tenham uma influência sempre crescente sobre seus semelhantes, de modo que, mesmo muito tempo depois de sua morte, talvez se compreenda que nesta época viveu uma criatura extraordinária. Ficará, então, claro sobre quem escrevi neste livro, e aqueles que desejarem conhecer alguma coisa dos primeiros anos da existência desse homem talvez aqui encontrem algo que lhes satisfaça…”

(Somerset Maugham, in Capítulo 1, O Fio da Navalha)

Observação: a postagem original, de 15 Outubro de 2010, permanece, agora com o footnote (1). Essa, digamos, “retratação, é de 25 de Fevereiro de 2011.

***

(2)

"The sharp edge of a razor is difficult to pass over;
  thus the wise say the path to Salvation is hard."

2 comentários:

Anônimo disse...

Não encontrou? Então leia de novo que está lá. Além do mais esse livro merece ser lido mais de uma, duas, três vezes!

Luis Alfredo Moutinho da Costa disse...

Bea,
Boa observação. Escrevi o que me lembrei quando li com apenas 19 anos. Vou reler o livro e, após, faço um update no Blog.