Inês Pedrosa (1965-)
Em junho de 2010, Maria Antônia, minha irmã, nos apresentou à escritora portuguesa Inês Pedrosa (Fazes-me falta e Em tuas mãos). Minha mulher Ligia leu primeiro e insistiu. Que descoberta! Jornalista e escritora, autora de livros delicados que falam do amor, do desejo, da amizade, do desamor, do ser no mundo, do mundo no ser... Sua narrativa é tão rica de imagens e metáforas que, com frequência, impedem uma leitura corrida e linear. Cada parágrafo, ou mesmo uma mera frase, provoca uma rápida revisão. E aí, você instantaneamente para e repensa, e prossegue nessas espirais até o final da obra.
Depois que li os textos abaixo, não havia mais como escapar. Quis ler tudo.
…Não basta morrer para conhecer o sorriso de Deus… …Deus procura primeiro os que sofrem antes do conhecimento específico da dor, talvez porque os outros sabem demasiado para poderem ser salvos. (Fazes-me falta, 2002) Arrumei os amores, é a primeira regra da vida – saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. A amizade só se perde por traição – como a pátria. Num campo de batalha, num terreno de operações. Não há explicações para o desaparecimento do desejo, última e única lição do mais extraordinário amor. Mas quando o amor nasce protegido da erosão do corpo, apenas perfume, contorno, coreografado em redor dos arco-íris dessa animada esperança a que chamamos alma – porque se esfuma? Como é que, de um dia para o outro, a tua voz deixou de me procurar, e eu deixei que a minha vida dispensasse o espelho da tua? (Fazes-me falta, 2002) |
Termino com uma das lições que aprendi com essa escritora mestre: “demasiado tarde” seriam “das palavras mais tristes de qualquer língua”. Uau! Essas palavras não precisam nem ser pronunciadas para estar presentes, como no triste fim de Romeu e Julieta. Ou quando surgem no cotidiano das nossas relações. As conseqüências são sempre melancólicas ou trágicas. |
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