Fundamentos da Geologia Pós-Moderna
Luis Alfredo Moutinho Da Costa
Hermes Verner Inda
Esse artigo foi resultado de um impacto emocional e intelectual após assistir as palestras da Eco-Rio, em 1992. De repente, me dei conta que o planeta estava doente. Após longas conversas com Hermes Inda, resolvemos elaborar uma meditação sobre o papel atual e complementar da Geologia e do Geólogo no mundo pós-moderno.
O termo pós-moderno implicaria, entre outras coisas, em uma proposta nova associada a elementos velhos, assunto polêmico que retomaremos mais adiante.
Como substância temática – e lema final – tentaremos demonstrar que a preocupação ambiental e o social representam funções contemporâneas que já se encontram parcialmente incorporadas ao
"subject-matter" das Ciências Geológicas. Falta-lhes, contudo, a universalização institucional. A contraposição se dá por paradigmas que, ou ainda postulam um fazer ciência pela ciência, ou pregam um utilitarismo alienante e direcionado ao que comumente é denominado de econômico e prático. Contudo, sem desmerecer os valores desses parâmetros na influência que exercem no campo social, ao darmos ênfase a esse social, procuramos desmitificar um pouco a noção de sócio-econômico, palavra composta por dois termos ambíguos que se antagonizam em uma dialética irresoluta.
Qual seriam os eventos dessa época pós-moderna que teriam transgredido, em quantidade e qualidade, aquelas fronteiras, primeiramente clássicas e românticas e, depois, modernas, da Geologia? A partir de quando, tais eventos se fizeram mais atuantes?
A resposta a essas questões se dará gradualmente ao passarmos, a
"vol d'oiseaux", pelos últimos dois séculos de nossa história, i.e., da civilização ocidental.
A GEOLOGIA CLÁSSICA E A ROMÂNTICA
James Hutton, o fundador do que poderíamos denominar Geologia como ciência, em oposição à geognosia prevalente no século XVIII, enunciou, em 1785, seu Princípio do Atualismo, também denominado Princípio do Uniformitarianismo, como um alicerce para a ereção de uma disciplina essencialmente voltada para o passado, para a História da Terra. Em sua forma mais simplificada, o Princípio advoga que o
Presente é a Chave do Passado
significando que os processos naturais, que atualmente encontram-se ativos na superfície e no interior de nosso planeta, seriam os mesmos durante as épocas geológicas passadas. Abria-se o caminho para o redimensionamento de uma escala de tempo adequada ao processo evolutivo do planeta. Após os ataques conservadores sofridos em 1793, resolveu Hutton divulgar a vasta documentação que serviu de base às suas idéias na obra imortal "Theory of the Earth" (2 volumes, 1795. Uma parte de seu terceiro e inacabado volume, foi publicado após sua morte, em 1799 ).
Esse novo modo de olhar a Terra, "moderno" na época, era visto como subversivo quanto à religião e à toda ordem social tradicional, fazendo com que sua teoria fosse uma das mais impopulares de seu tempo; o enterrar definitivo das visões catastrofístas e neptunísticas da escola Werneriana teve de esperar algumas décadas. A dialética plutonismo-neptunismo foi lentamente esclarecida com a progressiva aceitação de conceitos evolucionistas e transformistas, que falavam de processos e efeitos atuando em "tempos indefinidamentes longos". As palavras de Hutton "...I see no traces of a beggining, no prospect of an end", começavam a se fazer ouvir. Foi Sir Charles Lyell,o principal defensor, sistematizador e divulgador dos princípios da nova ciência, em seus "Principles of Geology" (1830-33) e "Elements of Geology" (1838). Contudo, é somente na subseqüente geração de cientistas que as novas concepções merecem acolhida geral; o mais eminente representante dessa nova geração, Charles Darwin, que publicou sua Origem das Espécies em 1859, revela em sua Autobiografia que foi o estudo da Geologia e os ensinamentos de Lyell que o conduziu à teoria da evolução das espécies, muito embora tivesse obtido o mecanismo da evolução ("a sobrevivência do mais apto") de outra procedência – do ensaio de Malthus sobre população.
Também em 1859, James Hall publica, em seu clássico trabalho sobre a geologia do Estado de Nova York, a idéia revolucionária de que as partes mais elevadas da crosta terrestre – as cadeias de montanhas – se soergueram através de uma gigantesca inversão do relevo das depressões de onde se originaram. Nascia o germe do conceito de Geossinclinal, termo que foi empregado pela primeira vez por Dana, em 1873, desenvolvendo-se, a partir de então, uma das teorias mais populares das Ciências Geológicas.
Em harmonia, e fazendo eco no contexto histórico dessa época tão criadora para as Ciências Geológicas, o cenário desses protagonistas englobava aquele conjunto de transformações que deu origem à chamada Revolução Industrial, um período que, iniciado na Inglaterra em sua primeira fase, vai da segunda metade do sec. XVIII, , até o fim do século XIX (ou até o final da primeira guerra mundial)(E.B.(a), 1980). Esse termo é comumente empregado para denotar as mudanças dos processos de produção, que marcariam a passagem de uma economia agrária e artesanal para uma dominada pela indústria e manufatura de maquinarias. No intervalo de um século e meio, transforma-se radicalmente a vida do indivíduo ocidental, a natureza de sua sociedade (Europa e Estados Unidos) e de suas relações com os outros povos. Essa época pode também ser olhada como a de passagem de uma economia pré-moderna e tradicional para uma economia moderna (3). Era a Geologia Clássica, compreendendo as fases finais do Iluminismo e espraiando-se através do Período Romântico. Uma ciência que surge preocupada com a evolução ancestral da Terra, isto é com sua historiografia.
Quase que independentemente, e livre do questionamento teórico, a prática do uso dos metais desenvolvia-se independentemente do pensamento acadêmico. Foi essa prática e sua função utilitária que serviram de base, acompanharam e deram suporte à Revolução Industrial. Seus antecedentes chegam à Idade do Bronze e do Ferro. Já na Idade Média, pelo século XIV, os povos habitantes do Reno dominavam a fabricação de ferro fundido. Por volta de 1600 espalham-se os altos-fornos, barateando a produção de ferro e, no século XVIII, a substituição da lenha pelo carvão dá enorme impulso à economia e tecnologia dos produtos siderúrgicos. A localização das matérias-primas básicas – carvão e ferro – delinearam a geografia industrial dos países primeiramente industrializados (da Europa e os Estados Unidos). Nessa parte do hemisfério norte estão as principais reservas de carvão desse momento histórico (da bacia do Don, através da Silésia, o Ruhr, Lorraine, o norte da Inglaterra e País de Gales, a Pensilvânia e a Virgínia Ocidental). Foi o metal produzido de boa qualidade e o combustível abundante e barato que contribuiram decisivamente para esse revolução industrial (e aí foi preponderante o desenvolvimento da máquina a vapor, a grande consumidora do mesmo ferro e do mesmo combustível siderúrgico).
Em resumo, vimos uma Ciência Geológica dos tempos chamados heróicos, digamos, pura, uma ciência nova que vem substituir uma geonomia quase bíblica. Um ramo do saber humano preocupado em desvendar a história do passado planetário. Nessa brotavam e evoluiam as raízes da cristalografia, mineralogia, petrografia e petrologia, sedimentologia, paleontologia, geologia estrutural, e as sínteses dadas pela estratigrafia, geologia histórica e geotectônica, aprimrando-se também a forma de retratar a face da Terra –- a cartografia. Notamos também que, quase que divorciado dessa geologia pura, desenvolvia-se aquele outro e diverso ramo de atividades, o qual já estava implantado, quase que a nível de instinto, no primeiro
homo que inventou a primeira ferramenta. Era o ser preocupado em prover para sí as matérias-primas fundamentais para atender suas necessidades, sejam as necessidades ditas básicas ou as errôneamente ditas supérfluas que, com o passar do tempo, cada vez mais se tornavam mais variadas e complexas: era o prospector, o minerador e o metalurgista. Não era o Geólogo! Não era essa a função daquele geólogo clássico e romântico!
A GEOLOGIA NOS TEMPOS MODERNOS
Avançando no tempo, se seguirmos os mesmos cânones que batizaram de modernas a Economia, as Artes Plásticas, a Literatura, a Música, a Linguística e a Antropologia, a Psicanálise, a Física, a Química, ou a Ciência em geral, da época pós-Revolução Industrial, a Geologia Moderna, deveria acompanhar o período do próprio Modernismo.
O "Projeto da Modernidade", segundo T. Coelho (4), foi lançado durante a época da Primeira Revolução Industrial, onde a revolução tecnológica acompanha um novo pensamento sobre o social (Marx), e os passos iniciais da Psicanálise e de outros modos de pensar e agir da humanidade Contudo, a "nossa" modernidade (Coelho, op.cit.) parece cristalizar-se apenas nos primeiros anos do século XX. A nosso ver, a grosso modo, ela pode ser estendida, no tempo, pelo menos para alguns ramos da atividade humana, em simultaneidade com o que alguns autores denominam de Segunda Revolução Industrial: o conjunto de inovações tecnológicas ocorridas na primeira metade de século XX, (o uso extensivo da eletricidade, o motor de combustão interna e o automóvel, o petróleo como combustível, o aparecimento de uma indústria química de sintéticos, etc...).
A Geologia, como disciplina, acrescenta para sí o que aparece de novidade em termos metodológicos aplicados, dando origem à Geofísica, à Geoquímica e à Oceanografia. Durante a primeira guerra mundial, surge a idéia de reconhecimento do terreno através de fotografias tiradas em vôo, semente da aerofotogrametria e da fotointerpretação e, posteriormente, da Fotogeologia, disciplina também incorporável à Geologia. Uma das facetas do Modernismo diz respeito aos conceitos de combinação e aglutinação de formas em uma síntese renovada. Paradoxalmente, o modernismo afluía também com a função analítica suplantando a função de síntese; é uma época de fragmentação, como dizia Paulo Mendes Campos sobre a década de 1920, quando Picasso fragmenta a forma; Husserl, o pensamento; Valéry, a Inteligência; Russel, a Lógica; Stravinski, o som; Freud, a alma; Einstein, o átomo... Na Geologia, a função analítica fragmenta a percepção da Terra em unidades cada vez menores, detalhando cada vez mais profundamente o estudo das Formações, das Estruturas, das Rochas, dos Minerais e da Idade do Planeta. Entretanto, é no processo de combinar que a Geologia vai se travestindo de geologias, vai se pluralizando. Fala-se então, não mais de Geologia, mas de Ciências Geológicas, quase que sinônimo de Ciências da Terra, aí incorporando o que viria a ser a Hidrogeologia e a Geologia de Engenharia ou Geotécnica. A Petrografia microscópica descritiva tem seu marco no final da época anterior, com o trabalhos de Rosenbusch (1877) e de Fouqué & Michel-Lévy (1879); uma Petrografia com abordagem analítica e apoio na química e físico-química, precursora da Petrologia, é exemplificada pelas pesquisas de Lagorio (1887) e Vogt (1884). Contudo, a Petrologia ppd e a Petrologia Experimental já pertencem aos inícios do modernismo, com Vogt (1923), Harker (1909), Daly (1914, 1933), Loewinson-Lessing (1899-1911) e Bowen (1928). (q.v. Loewinson-Lessing & Tomkeieff, 1854) Quer dizer, a Petrologia inaugura seu classicismo nos princípio dos tempos modernos, e vem se modernizando continuamente desde então.
A PÓS-MODERNIDADE NA GEOLOGIA
E O MODERNO TARDIO
Uma Terceira Revolução Industrial, ou melhor, a última grande Revolução Tecnológica, tem início com o final da segunda guerra mundial. Seria o início da era pós-industrial ppd que, de acordo com alguns pensadores, marcaria o início da Pós-Modernidade (para alguns setores da arte, da ciência e da tecnologia (Coelho, op.cit.): o uso da energia atômica e dos isótopos radioativos para fins pacíficos, a época da saúde (pós-penicilina), onde ninguém mais morre do flagelo moderno – a gripe, o desenvolvimento da eletrônica, da informática, dos computadores, da televisão e dos satélites artificiais.
E a Geologia , nesses tempos pós-modernos?
Muito embora a Teoria do "Continental Drift" já se mostrasse razoavelmente esboçada em bases científicas pelas sínteses pioneiras de Dietz (1961), Hess (1962) e, em seguida, Wilson (1963), – proposta de formação de crosta oceânica pelo processo de "seafloor spreading" –, foi devido à sofisticação da aparelhagem geofísica que as campanhas oceanográficas de investigação do fundo dos oceanos permitiram a descoberta das chamadas Falhas Transformantes (reconhecidas por Tuzo Wilson em 1965), possibilitando um melhor entendimento da cinemática e, posteriormente, da dinâmica das chamada placas litosféricas; nascia a Tectônica de Placas como o melhor representante da maior revolução científica no campo das Ciências da Terra desde a época de Hutton.
Foram necessários dois séculos para obtermos um olhar tipicamente "moderno" sobre a crosta da Terra. Uma visão moderna, que chegava tardiamente. Mobilidade é uma das características do Modernismo, onde tudo está em movimento e transformação, em reação ao pensamento imobilista pré-Revolução Industrial. Ironicamente, o pensar modernista não havia escapado a um meteorologista alemão, de nome Alfred Wegener, que em 1912 – a década repleta de modernidade para as artes e as ciências – teve o primeiro
insight teórico do que anos mais tarde viria a ser comprovado como a Teoria do "Continental Drift". Segundo Wegener, todos os continentes estariam unidos em uma única massa contínua – a Pangaea, que supostamente teria se partido em fragmentos durante a Época Mesozóica (entre 250 e 65 milhões de anos atrás). Esses fragmentos, transladando-se para longe uns dos outros teriam dado lugar ao Oceano Atlântico, e aos continentes Americano, Africano e Euro-asiático. Seus argumentos eram válidos (coincidência de linhas de costa entre Brasil e África, semelhança de elementos de fauna e flora pré-Mesozóicas no Brasil, Índia e África, etc...), mas faltava-lhe um mecanismo que explicasse convincentemente a dinâmica de movimentos crustais horizontais. A Ciência, como instituição do saber dominante é sempre reacionária, seja ela de época medieval, clássica ou moderna. A teoria de Wegener teve de esperar tanto quanto a teoria de Hutton para que a comunidade científica, como um todo, lhe desse o devido crédito. Já a pós-modernidade, como atitude atemporânea, e não como estilo que marca uma época, coloca-se sempre aberta ao questionamento, à reflexão, favorecendo a transgressão e subversão dos princípios dominantes. E essas são características fundamentais que permitem o progresso do saber.
A década de 60 assiste a um tremendo desenvolvimento de nosso conhecimento sobre sistemas deposicionais e sobre a crosta oceânica, enquanto que a década seguinte, é marcada pelo avanço da Geocronologia em geral. Também pertence aos anos 70, o reconhecimento mais aprofundado da evolução das faixas móveis granulíticas e dos terrenos Arqueanos, não somente devido às pesquisas sofisticadas sobre as rochas lunares, mas, principalmente, pela descoberta das chamadas lavas komatiíticas e pela introdução do conceito de "Granite-Greenstone Belts", através dos estupendos trabalhos dos irmãos Viljoen & Viljoen (1969a, 1969b).
Durante as décadas de 1970 e 1980, devido à descoberta (filmagem "ao vivo") de sulfetos maciços gerados pelos chamados "black smokers", e à descoberta dos depósitos recentes de sulfetos metálicos estratiformes no fundo dos oceanos, a Teoria de Placas e a Metalogenia, consolidam seu casamento e presenteiam as Ciências Geológicas com um quadro dos mais satisfatórios sobre a gênese dos depósitos minerais do Neogeno; foi o primeiro passo para, como que reavivando o Princípio do Atualismo Huttonniano, surgissem propostas que revisitassem os tempos geológicos passados com a nova percepção da dinâmica das placas tectônicas e da metalogenia associada. Os anos 80 assistem, ainda, a evolução da Geocronologia baseada em novas razões isotópicas (Samário/Neodímio, p.ex.), o desenvolvimento da Geologia de Isótopos, Geoquímica de Elementos Traços Petrologia Experimental, etc...
É ainda dessa segunda metade do século XX, que a cartografia geológica recebe um aliado poderoso – o sensoriamento remoto, em seus vários comprimentos de onda de rastreamento da superfície terrestre. Porém, é a Informática e o desenvolvimento dos computadores velozes que proporcionam às Ciências Geológicas o manuseio eficiente de um número incontável de dados, o processamento combinado de informações, a rápida atualização e recuperação dessas informações, a elaboração de mapas digitais e a combinação de informações em sistemas georeferenciais, daí surgindo a aplicação na Geologia do chamado GIS (Geographic Information System) (Sistema de Informações Geográficas – SIG).
Não poderia ser mais oportuna uma breve transcrição de algumas palavras de Dallas Peck (1992, Message from the Director), Diretor do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). O avanço na tecnologia de computadores permitiu aos cientistas o manuseio sistemático de uma grande massa de informações, abrindo caminho para novos "insights" sobre a terra em que vivemos. "Nossa visão da Terra começou a mudar... Hoje, a força do mapa tradicional impresso, os recursos do sensoriamento remoto e o poder da computação moderna em Sistemas de Informação Geográfica (SIG), são combinados para nos auxiliar a perceber novas formas de entendimento e de gerenciamento de nosso planeta.
A utilização criativa da tecnologia GIS não é exclusiva do USGS, sendo empregada por mais de 95 organismos federais e milhares de agências estatais e entidades privadas nos EUA (no Brasil, a CPRM lidera a tecnologia GIS). "Bilhões de dólares são investidos anualmente para fazer face a vasta demanda de informação e a enorme quantidade de dados a serem processados e coletados e atualizados. Essa ferramenta poderosa tem permitido – ainda as palavras de Dallas Peck – a focalização de áreas de risco e a conseqüente elaboração de programas realísticos de prevenção de acidentes e medidas de resguardo e mitigação...Ações vi
sando proteger ou restaurar os suprimentos hídricos são auxiliadas por análises complexas que podem ser eficientemente orientadas pelo SIG...Aplicando-se a tecnologia SIG em campos tais como: proteção dos recursos hídrológicos, planejamento e gerenciamento territorial e urbano, e prevenção de acidentes naturais, os cientistas estão proporcionando à população, aos responsáveis pelo gerenciamento dos recursos naturais e aos executivos uma massa vital de informação em prazo nunca d'antes atingido".
A Pós Modernidade como Atitude
Para F. Lyotard (1979,1990), que viria a organizar uma exposição auto-intitulada pós-moderna em Paris (1985), a passagem da cultura para a pós-modernidade, acompanhando a passagem da sociedade para a era pós-industrial, teria principiado no final dos anos 50, marcando para a Europa o final de sua reconstrução pós-guerra. Para Lyotard (op.cit., p. xv) o conceito designa o estado da cultura após as transformações que afetaram as regras dos jogos da ciência, da literatura e das artes a partir do século XIX. É um conceito sobre o saber das sociedades ditas desenvolvidas. As condições gerais de vida da maioria da população do Terceiro e Quarto mundos carecem de modernismo, quanto mais de pós-modernismo. Não há modernidade que se sustente coletivamente onde há miséria e pobreza generalizadas. O que há são focos restritos de indivíduos e instituições privilegiadas, que conseguem meios para acompanhar a contemporaneidade dos acontecimentos ditados pelo Primeiro Mundo. (Estamos intermitentemente citando algo do social nesse texto pós-moderno(?) para não nos perdermos inteiramente, junto com o leitor, do objetivo inicial advogado pelos parágrafos introdutórios).
A Arquitetura representa o domínio onde o pós-moderno cristalizou-se pela primeira vez com razoável clareza, e de onde saiu para alastrar-se pelas demais artes (Coelho, op.cit., p.63). Contudo, o conceito já ultrapassou esses limites, e são diversos os ângulos pelos quais se pode ter uma percepção do pós-modernismo, tantos quantos forem as linguagens consideradas. Para Wilmar Barbosa (1990), o cenário pós-moderno é essencialmente cibernético, informático e informacional.
Não caberia no presente trabalho uma dissecação conceitual e histórica da pós-modernidade. Portanto, tentaremos discriminar apenas aqueles pontos que espelhariam uma semiologia representativa do que percebemos como pós-modernidade nas Ciências Geológicas.
Não podemos resistir a tentação de pedir emprestado a Artaud (1983) sua proposta sobre o abandono do produto teatral pela produção teatral (com apoio em Coelho (op.cit.), que procura uma teoria maior da pós-modernidade), e de subvertê-la em uma "paráfrase" que proporia a preponderância da produção geológica sobre o produto geológico.
Todo processo de produção, seja ele cultural, tecnológico ou científico, passaria por três fases: 1) a da idealização ou produção p.p.d., que finda com a elaboração do produto; 2) a da distribuição, que coloca o produto em contato com o intermediário ou usuário final, e 3) a do consumo, quando o produto é efetivamente consumido e utilizado pelo receptor concreto. Esse mecanismo, imbuido de posturas que vão do clássico ao moderno, significa que o receptor, no teatro (Coelho, op.cit., p. 85), ou o usuário, na Geologia, só é admitido no processo quando o produto está pronto e acabado. A pós-modernidade no teatro tenta organizar experiências para diminuir os limites entre palco e platéia, onde todos atuam, niguém apenas assiste.
Essa atitude – tipicamente pós-moderna – já vem sendo experimentada por diversas instituições. Mais adiante exemplificaremos duas delas (o USGS e a CPRM, com seus Programas de Gestão Territorial), onde uma abordagem "bottom up" coloca a comunidade usuária final, que é carente de determinado produto geológico, participando da primeira das fases de produção: a da idealização e planejamento do produto.
Como notamos anteriormente, também caberia à Geologia a procura de uma linguagem própria e que a caracterizasse, integral ou parcialmente, como uma "disciplina" do pós-modernismo. A pós modernidade tem clara consciência dos fenômenos de comunicação e significação e, o produto da Geologia, tal como a obra arquitetônica, deve procurar uma linguagem bifronte (Coelho, op.cit., p. 76); deve falar para o próprio geólogo, isto é, para uma minoria esclarecida, e deve falar também para o grande público que se interessa pela sua utilização.
Ora, parte dessa linguagem aí está, de forma mais óbvia com termos tomados da:
1 - Sociologia, Antropologia e Semiótica
2 – Ecologia
3 - "Léxico" quantitativo dos processos naturais transformadores do meio físico.
Seria a sintaxe combinada desses elementos que reordenaria o pensamento e o discurso da nova gramática sustentadora das bases para uma Geologia Pós-Moderna. Vamos nos aproximando desse fechamento, faltando tocar brevemente nos três ítems acima mencionados.
A ECOLOGIA NA PÓS-MODERNIDADE. O SOCIAL.
INTERSECÇÕES COM A GEOLOGIA PÓS-MODERNA
A Ecologia como uma ciência do meio-ambiente, tem suas raizes na zoologia e biologia do século passado, quando o conceito de "meio-ambiente" incluía a esfera biótica e excluía a esfera antrópica. Contudo, esse conceito clássico de Ecologia, passa a alcançar novas fronteiras na década de 1920 (Couto & Villaschi, 1992) através de Robert Park e Ernest Burguess, com o nascimento da Ecologia Humana. A Ecologia contemporânea, da pós-modernidade, não mais representaria uma simples (1) "parte da Biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio-ambiente em que vivem...e suas recíprocas influências"; Aproxima-se um pouco mais do (2)"ramo das Ciências Humanas que estuda a estrutura e o desenvolvimento das comunidades humanas em suas relações com o meio-ambiente e a sua conseqüente adaptação a ele, assim como os novos aspectos que os processos tecnológicos ou os sistemas de organização social possam acarretar para as condições de vida do homem" (Buarque de Holanda, 1975). É a inserção do registro do Simbólico Lacaniano, que é uma característica do ser falante, como fator de influência no meio ambiente. Entretanto, a Ecologia atualmente é mais do que isso. Se, na segunda definição do "Aurélio", entre outras modificações, substituirmos os termos acima italizados em negrito - humanas e do homem - , por seres vivos, então chegaremos a uma definição mais condicente com nossa época pós-moderna.
Já é voz corrente do discurso ambientalista – um chavão melancólico – que nesse prefácio do terceiro milênio, o ecosistema planetário revela contundentes manifestações de desordens antropomórficas ou tecnogênicas em todas suas "esferas": biosfera, atmosfera, hidrosfera e litosfera. A ecologia deixa de ser um simples ramo do conhecimento de certas ciências – Biologia, Ciências Humanas, etc..., para, de alguma forma, fazer parte de todas elas, e para integrar-se autônoma no imaginário cotidiano do ser pensante. Guattari (1990, p.8) chega a falar de ecosofia para designar o que chama de três registros ecológicos: o do meio-ambiente (ecologia ambiental); o das relações sociais (ecologia social); o da subjetividade humana (ecologia mental). Nancy Unger (1991) fala de ecologia e espiritualidade, desenvolvendo o tema "Deep Ecology" de Devall & Sessions (1985). Luís Alberto Warat (1990) preocupa-se com uma ética do ecológico mental e tenta "apanhar a pós-modernidade por um de seus lados negativos - a falta de amor..." e vai "pensar o amor como uma dimensão simbólica emancipatória da pós-modernidade". Oswaldo Amorim Filho (1992) enfatiza os estudos da percepção ambiental como provedora afetiva do valor que o ser humano pode consignar à paisagem que o contorna e o envolve. Enfim, a Ecologia já representa uma certa zona de interseção entre várias atividades e ramos do conhecimento humano e, como tal reclamaria por uma semiótica própria.
O status da Ecologia é de magnitude planetária e universal. O "Ecosistema é um só, no interior do qual existem relações sociais" (Daniel Cohn-Bendit, in A. Risério (1992)). O mesmo artigo de A. Risério, que se intitula "A Hora da Sociologia Verde", sublinha a "pobreza do discurso sociológico no tratamento da questão ecológica". A própria história da Sociologia revela uma educação sociológica que se mostra "bastante otimista diante da modernidade. A confiança Marxista no mundo industrial é um bom exemplo...até mesmo o ceticismo de Weber não antecipou qualquer catástrofe na trajetória do mundo moderno...O trabalho industrial podia ser visto como degradante, misto de tortura física e humilhação espiritual". Entretanto, não pertencia ao pensar sociológico institucionalizado que as forças produtivas teriam um tremendo potencial destrutivo. Contudo, a pós-modernidade vai lentamente minando essa visão "sociocentrista" distorcida, ao mesmo tempo em que essa mesma pós-modernidade, embora tardiamente, ameniza o discurso ambientalista radical da década de 70, quando prevalecia uma ideologia da contracultura e da contraindústria. As forças antagônicas dessa dialética hegeliana, encontram a síntese na reflexão da pós-modernidade. "...não é a defesa do meio ambiente: isso é apenas parte do programa" (Cohn-Bendit, op.cit.). Lembra Risério que os "próprios guerreiros do arco-íris (leia-se "Greenpeace") falam na busca de alternativas econômicas que sejam ambientalmente sadias e socialmente justas". Atualmente domina o refrão autosustentável. Estamos aí assistindo a um encontro. É mais um muro que se desmorona e convida ao abraço entre o fundametalismo verde anacrônico do ecocentrismo e a impermeabilidade sociocentrista.(q.v. Almino, 1991).
Seria impossível citar os inúmeros eventos que vêm ocorrendo como fato sócio-científico concreto, através da diversidade de organizações, projetos, simpósios, congressos e publicações, relacionando certas atividades do campo da geologia com disciplinas e assuntos direta e/ou indiretamente ligados ao meio ambiente. Chamamos a atenção para um dos programas do USGS (Peck, op.cit.), denominado "Earth Science in the Public Service" - que bem poderia ser traduzido "As Ciências da Terra na Defesa Civil", e que foi colocado em teste antes, durante e após a erupção do vulcão do Monte Pinatubo, Filipinas. Através de uso intensivo de equipamentos sofisticados integrados a uma tecnologia SIG, o USGS, em conjunto com organismos especializados do governo Filipino, foi possível a identificação cartográfica das áreas de risco iminente, o lançamento de alerta e a elaboração de medidas de prevenção e resgate. Como consequência, mede-se o resultado obtido no salvamento de inúmeras vidas e de bilhões de dólares em equipamentos. Esse esforço cooperativo é marcado por um sucesso científico e humanitário, nos dizeres de Dallas Peck. Destacamos, acima, a palavra humanitário, incorporada naturalmente no discurso de um dos arautos da geologia norte-americana. Lembramos também que a "Agenda 21", documento básico da Rio-92 (ou Eco-92) (Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento), prioritiza o Social em sua proposta de desenvolvimento sustentável.
Destacamos, ainda, do já antigo II Simpósio - Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte e Minas Gerais (27 a 29 de Outubro de 1992), promovido pelo Núcleo de Minas Gerais da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), os assuntos abordados por quatro temas: I - Bases Conceituais e Filosóficas da Gestão Ambiental; II - Diagnóstico Ambiental; III - Projetos e Resultados de Controle Ambiental; IV - Educação Ambiental e, V - Aspectos Institucionais e Qualidade de Vida. Sob esses temas, as mais variadas palestras versaram sobre: filosofia, estudos da "Percepção como a Última Fronteira da Gestão Ambiental" (Amorim Filho), ecologia humana e ecologia urbana ("Cidade, Casa do Homem", de Couto e Villaschi), política urbana, geofísica aplicada, geoquímica aplicada, mapeamento ambiental, estudos sobre insolação e radiação solar, efeito estufa, monitoramento de aquíferos e de águas superfíciais, qualidade do ar, poluição sonora, tecnologia de manejo de espécies nativas para recuperação de áreas degradadas, despoluição de bacias, avaliação e controle de enchentes, controles de emissões poluidoras do ar, caracterização e controle de focos erosivos, reciclagem e qualidade de vida, educação e limpeza urbana, projeto de oficinas para educação ambiental, usinas de tratamento de rejeitos humanos, gestão popular a nível municipal, sistemas de informação meteorológica, rede cibernética intermunicipal visando regionalização do controle ambiental, etc... Foi um encontro multidisciplinar, mas era flagrante o predomínio de membros das Geociências. Sem se intitular ou saber, alí estavam os discursos repletos de geologia pós-moderna. E de lá para os dias de hoje – passados dez anos – essa tendência se manteve.
Kevin Burke (in Symon & DeFries (1992)), da NASA, audaciosamente sugere que a interação dos sub-sistemas: Atmosfera, Oceanos, Terra, e Seres Humanos seja conjugada por uma única Ciência, uma Ciência do SISTEMA TERRESTRE. Uma reabordagem do conceito de Gaia, de Lovelock (1982). Essa aglutinação terminológica – UM Sistema – é uma prática adquirida do modernismo.
Já o procedimento tipicamente pós-moderno, implica na colocação dos sub-sistemas em blocos de significação (A "parataxe" de Coelho (op.cit., p.103)), sem explicitar a relação que os une.. Existe uma intuição de que a presença de um certo bloco é compatível com o outro, por mais diversos que possam ser em suas autonomias; e basta essa sensação para que o processo de justaposição seja acionado. A significação final resultará desse processo de coordenação e será, necessáriamente, maior do que a simples soma das partes. Esse vazio que se coordena, implica que a Parataxe não admite a figura de um receptor passivo. Ou ele preenche esse vazio e tece a trama que clama por participação, ou não haverá significação para ele.
O receptor passivo seria um ser da modernidade, a espera de "alguém" que participasse por ele, e lhe desse de presente um produto já sintetizado, acabado e pronto para o consumo. Em oposição, a pós-modernidade vem demandar uma maior responsabilidade do ser humano.
Como vimos, é de se deduzir que a especialização advinda da modernidade é necessária e deve permanecer nesses novos tempos de reflexão, como única forma de digestão da multiplicidade do conhecimento humano. Entretanto, é a visão guestaltista, de que o todo é maior que a soma das partes, que faz da coordenação das informações uma nova coordenação, uma aglutinação conceitual onde as partes integrantes permanecem incorruptíveis.
As Ciências Geológicas não podem e não estão faltando a esse grande encontro da contemporaneidade. Um encontro de todas as ciências em um forum comum, onde o saber procura se socializar, dissociando-se do poder, ao aproximar aquele que produz o saber daquele que consome o saber, isto é, ambos seres humanos.
Esse convite nos retorna ao tema antes introduzido, que propõe uma Geologia para o Social, a qual, por quase que uma imposição da pós-modernidade, deverá buscar sua autenticação através de um sincretismo Geológico-Ecológico-Social (em parataxe).
É essa a transliteração do título deste artigo. Os exemplos citados no decorrer desse texto revelam essa nova participação das Ciências Geológicas (o que, de forma alguma exclui a velha participação); faltava-lhe apenas um Nome que traduzisse um atributo que pertence ao que poderíamos chamar de consciente coletivo. Nosso brevíssimo discorrer histórico revelou uma diacronia de eventos enriquecedores dessas Ciências Geológicas, muito embora predominasse, como ainda predomina a nível sincrônico, que o conceito de Geologia esteja mais associado ao "passado geológico" do que ao presente ou ao futuro da Terra. O Princípio do Atualismo "O Presente é a Chave do passado" permanece adequado para o fazer geológico clássico e moderno. Contudo, a reflexão da pós-modernidade clama por um novo Princípio que sustente uma nova epistemologia geológica; um Princípio que oriente a Preservação do Sistema Terrestre, que oriente o geólogo para o presente com vistas no futuro, em comunhão com os ambientalistas em geral, sociólogos, etc.... Esse Princípio poderia ser enunciado como:
O Presente a Chave do Futuro
A Geologia Pós-Moderna é uma geologia voltada mais imediatamente para a qualidade de vida e bem-estar do Homem e para seu meio-ambiente, onde a água é o mais precioso bem mineral. Uma Geologia, que estuda a Terra visando o bem-estar do Homem, contribuindo na manutenção da integridade e harmonia entre as esferas Biótica, Antrópica e Física.
A "nova" geologia se concentra no aprender sobre os processos naturais e seus efeitos de duração em escalas de tempo "mais curtas" do que as escalas geológicas "classicas" em geral. Diríamos que as escalas de tempo mais adequadas para prognósticos em geral, excluiriam aqueles processos abaixo definidos como de durações extremamente longas a longas, os quais compreendem dezenas de milhares, centenas de milhares, milhões a centenas de milhões e bilhões de anos.
O geólogo pós-moderno deve passar a pensar em segundos, minutos, dias, semanas, anos, dezenas de anos a séculos e até alguns milhares anos. O "passado geológico" em foco compreende os últimos 10.000 anos, quando se inciou o que Ter Stepanian (1988) (comunicação verbal de Walter Marques, 1992) chama de Tecnogeno ou Quinário, como um "período geológico" seguinte ao Quaternário, e marcado pelo início da ação do Homem como transformador intensivo e extensivo de seu meio-ambiente.
A matéria que se segue, em forma de anexo, deve contribuir para aquele "Léxico" quantitativo já citado; um "aide memoire" que auxilie o geólogo pós-moderno a se situar nas variável tempo, nessa quarta dimensão que completaria sua formação geo-referencial.
AS ESCALAS DE TEMPO DOS CICLOS DE
TRANSFORMAÇÃO DO SISTEMA TERRESTRE;
1) Ciclos de duração extremamente longos: medido em dezenas de milhões a bilhões de anos passados; processos evolutivos da crosta, manto e núcleo da Terra; formação de continentes, ilhas e áreas oceânicas; deriva continental, formação de cadeias rochosas através de colisões entre placas, erosão e aplainamento de cadeias de montanha; transgressões e regressões em escala continental; fases orogenéticas e metalogenéticas, surgimento da vida e criação da atmosfera, estratosfera, etc... evolução das espécies, etc...
2) Ciclos de duração longa, medido em várias dezenas, em centenas de milhares até alguns milhões de anos; ciclos climáticos globais de longa duração; o sistema terrestre assiste a oscilações climáticas entre eras glaciais e interglaciais, desenvolvimento de solos muito espessos, variações no sistema de correntes oceânicas profundas, intemperismo químico extensivo, evolução das espécies; mudança no sentido de movimento das placas tectônicas, flutuações eustáticas com amplitudes acima de 100 metros, excentricidade da órbita da Terra, alterações cíclicas da órbita da Terra em torno do Sol, inversão do campo magnético terrestre;
3) Processos de duração média, medidos em séculos a poucos milhares de anos; variações climáticas globais, formação de planícies de inundação, variações da linha de costa, assoreamento de lagos rasos, intemperismo químico com formação de solos de 0.5 m a 2,0 m de espessura, variações na inclinação do eixo da Terra, precessão do eixo da Terra; depósitos tecnogênicos e modificação do meio ambiente pela esfera antrópica.
4) Processos de durações curtas, medidos em ano, vários anos e décadas; formação da camada de húmus do solo, variações climáticas sazonais e depósitos de varves, aumento e derretimento da calota polar devido à variação climática anual, crescimento anual dos animais e vegetação; depósitos tecnogênicos e modificações do meio ambiente pela esfera antrópica (poluição atmosférica e das águas superficiais e subterrâneas, subsidências)
5) Processos de durações muito curtas, medido em meio-dia, dias e semanas. Ciclo das marés e depósitos correlatos, variação diurna de temperatura devido à rotação da Terra, tempestades e inundações com depósitos de inunditos e landslides, cataclismas vulcânicos e depósitos de tephra, algumas catástrofes, depósitos tecnogênicos (lixo, esgotos, efluentes industriais e rejeitos em geral, etc..) e modificações do meio ambiente pela esfera antrópica (incêndios, desmatamentos, poluição do ar e águas superficiais, etc...)
6) Períodos excessivamente curtos: medidos em segundos, minutos e horas. Tempestades e furacões, terremoto e tsunamis, correntes de turbidez, cataclismas vulcânicos, landslides e avalanches, impacto de meteoritos; catástrofes em geral, depósitos tecnogênicos (lixo, esgotos, efluentes industriais e rejeitos em geral, etc...) e modificações do meio-ambiente pela esfera antrópica (incêndios, poluição sonora, etc...)
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A idade do Universo está estimada entre 10 a 20 Ga
A idade do Sistema Solar em torno de 4,6 Ga
A idade da mais antiga rocha lunar é de 4,5 Ga
A idade da mais antiga rocha da crosta terrestre é de 4,28 Ga
Obs.: Ga = Giga-ano ou bilhão de anos.
Enfatizar o novo pensar sobre as unidades de medida dos processos geológicos; padronização das unidades segundo Z. Kukal (24)
- Velocidade de erosão cm/100 anos
- Velocidade de intemperismo cm/100 a
- Velocidade de sedimentação cm/ 1000 a
- Velocidade de movimentos crustais mm/a
- Vel. de mudanças do nível do mar mm/a
- Velocidade das águas subterrâneas m/a
Variáveis (dependentes e interdependentes): Morfologia, Topografia, Clima, Vegetação, Solos, Hidrografia, Atividade Humana ou Biótica em geral:
III - VELOCIDADE DE EROSÃO:
Considerações sobre os mecanismos e fatores que afetam a erosão.
Nas cadeias de montanhas tipos alpino ou andino, pensar em 1 mm/a , equivalente a 1 metro/Mil anos
Erosão devido a agentes biológicos; bioturbação
Erosão vertical nos rios
Erosão lateral ou regressiva
Gradientes dos Taludes:
Catástrofes
Média de erosão dos Continentes:
IV - VELOCIDADE DE FORMAÇÃO DE SOLOS
V - VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO
Planícies de Inundação: pode ser medido em décimos de centímetro/ano (Nilo, Tigre, Columbia), em centímetros/ano (Ohio, Cimaron) ou em decímetros/ano (Missouri, Kansas, Connecticut)
Canais de Rios: a velocidade de acumulação de sedimentos grosseiros pode chegar a alguns metros em 24 horas.
Leques Aluviais e Coluviais: acumulação de sedimentos variando de alguns centímetros a várias dezenas de metros/1000 anos
Lagos: dezenas de centímetros a poucas dezenas
de metros/1000 anos
Sedimentos eólicos: alguns centímetros a dezenas de metros/1000 anos
Deltas: 23 m/a (23 km/1000 a) no Yangtze-Kiang; 268 m/a no Hwang-Ho (observação: velocidade variando segundo o estágio de evolução: p.ex.: o Nilo, com uma média de 30 cm/1000 a, desde o início de sua formação; variação de 3 a 88 cm/a entre 57000 e 17000 anos atrás; velocidade flutua entre 1 e 36 cm/1000 durante os milênios seguintes; atualmente está em torno de 8 cm/1000 a
OBS.: Discutir tempo e espaço, média dos processos de longa duração, evolução por saltos, sucessão de catástrofes, etc...
etc...
VI - VELOCIDADE DA DIAGÊNESE
VII - MUDANÇAS DA LINHA DE COSTA
VIII - MUDANÇAS DO NÍVEL DO MAR; Transgressão E Regressão
IX - O MOVIMENTOS DAS ÁGUAS
Velocidade do meio líquido
Velocidade de infiltração
Velocidade do lençol freático
XIII - VELOCIDADE MÉDIA DE TRANSFORMAÇÃO GLOBAL DA CROSTA TERRESTRE
A Erosão de uma Cordilheira do tipo Alpino ou Andino, com 6 a 8 km de altitude procede-se a uma razão de 1 a 2 metros/1000 anos (ou 1 a 2 mm/a,) o que equivale a uma média de 1 km a 2 km por Milhão de ano. Com a diminuição exponencial da velocidade com a elevação, (Ahnert, 1965), os alpides Hymalaios seriam arrasados a cerca de 10% da sua altura em um máximo de 8 Milhões de anos; levando-se em conta uma certa compensação isostática, o tempo atingiria cerca de 14 Ma.
A velocidade de soerguimento vertical – orogênese – possui a mesma ordem média de grandeza: 1mm/a. Em zonas de alta atividade, essa razão pode atingir até 10mm/a.
A velocidade média de sedimentação em zonas ativas, circundadas por relevo acentuado, igualmente atinge a mesma ordem de grandeza: 1mm/a. Uma fossa ativa, com cerca de 8 km de profundidade seria totalmente preenchida em 8 Ma, não fosse a digestão dos sedimentos pela zona de subducção.
O assoreamento de lagos se processa naturalmente em tempos com ordens de grandeza 2 a 3 vezes menores: dezenas a centenas de milhares de anos, considerando os casos em suas profundidades variam entre dezenas a centenas de metros. Com a participação do homem (esgotos e efluentes em geral), esse tempo pode encurtar ainda mais (décadas).
NOTA: processos de desertificação; avanço e recuo de geleiras; fenômenos peri-glaciais; inundações; mudanças da linha de costa; karstificação; erosão por torrentes; catástrofes devidas a furacão, vulcanismo, terremoto e maremoto. Escalas de tempo menores: anual a ciclos de 100 anos.
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